Agostinho da Silva: "Baden-Powell achou que o essencial na vida não é rir: o essencial é estar alegre, o que só vem de um carácter forte, de não ter medo a coisa alguma e de estar disposto cada um a realizar na vida o que se lhe meteu na cabeça, a despeito de todos e a despeito de tudo. Quando ele, por exemplo, põe como uma das provas dos meninos cozinhar um almoço no cimo de uma árvore, não se trata de nenhuma habilidade de acrobacia, não se trata de nenhum feito especial, trata-se simplesmente de meter na cabeça do menino que, se apetecer cozinhar um almoço no cimo de uma árvore, o pode fazer; mais ainda: o deve fazer. Lição essa extensível a toda a vida: quando a nós apetecer cozinhar um almoço, seja de que natureza for, a nossa obrigação é fazê-lo. Fazê-lo sabendo perfeitamente que corremos o risco de cair de lá e de quebrar o pescoço. E então quando as árvores não são árvores e o almoço não é almoço, quero eu dizer, quando as coisas se passam em lugar onde não há bosque e só gente, e onde os almoços não são em geral para nós comermos mas os que preparamos para os outros, aí, quando resolvemos fazer as coisas à nossa moda, o risco de quebrar o pescoço é muitíssimo maior. Mas precisamos de o correr, precisamos de ter espírito de iniciativa, juntamente com o espírito de equipa, e o espírito de realizar o nosso pensamento a despeito de tudo. Isso, junto com a ideia de que só a vida nos pode educar para a vida na medida em que corajosamente a ela nos lançarmos, parece-me ter sido a lição fundamental que nos deu Baden-Powell na sua personalidade e na sua pedagogia."
Agostinho da Silva (2000). Textos Pedagógicos II. Editora Âncora. p.31-33.
Fotografia: brincadeira de crianças da Florescer no Centro Comunitário de Linda-a-Velha.